Dora e o assaltante camarada!
Olá!
Meu
nome é Dora!
Na
realidade meu nome é Doralice... Eu sei, ninguém merece um nome desses... Minha
mãe realmente estava de mau humor no dia em que me registrou, acho que devo ter
chorado a noite inteira e como vingança por não ter permitido a ela uma
tranquila noite de seu sono reparador, me castigou com esse singelo nome.
Tenho
uma irmã dois anos mais velha que se chama Laura. Acho que ela não chorava
muito quando nasceu, então a mamãe colocou um nome aceitável nela.
Estou
com 27 anos e moro em um apê super fofo na região da Vila Olímpia em São Paulo,
sabe aqueles imóveis antigos, que possuem uma cozinha que cabe até uma mesa de
quatro lugares e uma sala bem espaçosa?! Você deve estar pensando que pago uma
fortuna de aluguel, né?! Mas não pago não, o preço deu certinho para o meu
bolso, o problema é que ele fica no 4° andar e o prédio, de seis andares, não
ter elevador. Juro que quando vou ao mercado tenho vontade de chorar só em
pensar que quando chegar ainda tem quatro lances de escadas para subir com as
compras. Nem vou falar para vocês sobre o encanamento ou a fiação
pré-histórica, que rendem reparos sem fim... Mas o importante é que tenho um
cantinho só meu.
Trabalho
como organizadora de eventos e na empresa onde estou atualmente fazemos festas
de aniversários, de formaturas, jantares, leilões, bailes de caridade e tudo
mais. O que eu adoro, pois acabo conhecendo vários lugares diferentes.
Minha
chefa Jacinta é a pessoa mais puxa saco que eu conheço, sério gente, a Jaci
como ela prefere ser chamada, é um pé no... é bom, ela é chata demais.
Sabe aquelas pessoas que botam defeito em
tudo?! Tenho certeza que todas tiveram aulas com ela, porque ela é a chata mor,
mas fazer o que?! Eu gosto do serviço e
tirando a Jacinta o resto do pessoal é bem legal.
Meu
pau para toda obra, amigo de todas as horas e micos é o Léo. Tadinho... Ele que
aguenta as minhas loucuras desde quando éramos pequenos.
Nós
vivemos praticamente grudados, sabemos tudo um do outro, na verdade somos como
irmãos, temos nossas brigas também, mas acaba sempre com os dois caindo na
risada.
O Léo
tem o seu próprio apartamento, que posso dizer que é melhor que o meu, pelo
menos no prédio dele tem elevador, mas ele vive mais aqui comigo do que no
dele, a não ser em algumas ocasiões quando ele quer ficar sozinho com alguma
garota.
Desde
que mamãe colocou esse nome em mim (vulgo Doralice), acho que ando sendo presenteada
com ondas de má sorte. Talvez se ela tivesse colocado Alice, Ana, Cláudia,
Isabela, ou sei lá qualquer outro nome bonito, ou pelo menos normal, minha vida
seria diferente.
Pode
se dizer, que essa má sorte começou quando eu tinha cinco anos. Eu sempre quis
ter um gatinho, mas mamãe nunca deixou, tá certo que ela era alérgica, mas o
que custava me deixar ter um pequeno gatinho?!
Por
essa minha vontade insana, eu já peguei vários gatinhos para criar, já cheguei
até a esconder um dentro do forno com a ajuda do Léo, mas minha mãe achava
todos e os levava de volta de onde eu tinha pegado.
Na
escola enquanto Léo era ótimo em todos os esportes, eu era a sedentária. Ele
até tentou me ensinar algumas vezes, mas desistiu depois que eu taquei a bola
três vezes na cabeça de uma menina que estava conversando do lado de fora da
quadra.
A
coitada da Laura cortou um dobrado para me ensinar a me vestir bem! Agradeço
sempre por ter uma irmã estilista que vive me obrigando a usar as criações
dela, a na verdade nem todas porque a Laura às vezes cria umas coisas que só
Deus para salvar.
Sério
acontece cada coisa comigo, que acredito que só pode ser culpa do meu nome!
Teve
um dia que estava voltando do trabalho a pé e quando olho para frente, vejo um
moço, todo estranho andando na minha direção.
Pensei
meu Deus é hoje que vou ser assaltada! Não que eu tivesse alguma coisa de valor
para ele levar, pois era o contrário, ele só iria levar minhas dívidas, mas eu
gostava da minha bolsa e tinha meu RG e minha carta de motorista a e meus
cartões de crédito, tudo bem que a maioria estava com o limite estourado, mas
eram meus.
Como eu já previa, ele já foi falando:
- Me
passa a carteira, me passa a carteira!!
Mesmo
tendo já imaginado a cena, eu fiquei tão nervosa quando vi que ele parecia
estar segurando uma arma por dentro da blusa, que meu corpo todo tremia e eu
nem consegui abrir a bolsa, então eu falei:
-
Calma moço que já vou dar.
Ele
estava morrendo de pressa e ficava olhando de um lado para o outro.
Eu
consegui abrir a bolsa, mas não achava a carteira de jeito nenhum, será que não
era mais fácil ele já pegar tudo de uma vez?!
Bom,
então eu disse para ele:
-
Moço me ajuda aqui que não estou achando!
E já
fui jogando minha blusa de frio em cima dele, ele acabou tirando a mão de
dentro do bolso e foi ai que percebi que ele não tinha arma nenhuma!
A
fala sério meu, o guri vem me assaltar e nem arma tem?!
Mas
como não tinha muito que eu pudesse fazer, pois não tinha ninguém passando
perto da gente no momento, continuei tirando as coisas.
Fui
jogando a minha nécessaire, minha bolsinha com maquiagem, minha agenda, meu
estojo, minha tupperware na qual eu levava um lanchinho de casa, e nada de
achar minha carteira.
Quando ele viu a tupperware acho que ele
pensou que eu era mais pobre que ele e falou:
-
Moça pode botar tudo de volta!
Levantei
o olhar que até então estava na bolsa aberta e o olhei com cara de
interrogação. Como assim botar tudo de volta? Será que ele tinha desistido de
me assaltar?
Ele
já injuriado respondeu:
-
Moça deixa pra lá, pega suas coisa e vai embora.
A nem
acreditei, mas ai pensei, vou continuar sozinha nessa rua que está deserta? E
se da próxima vez o cara que vier não for tão camarada?!
Não
me fiz de rogada e pedi na maior cara de pau para ele me levar até o ponto de
ônibus que ficava a umas duas quadras dali.
E não é que ele aceitou!
Totalmente a contra gosto, mas me levou até o ponto.
É
agora pensando bem, até que não sou tão azarada assim, mas ainda acredito que
se tivesse um nome melhor talvez não passasse por essas situações.
E
vocês já passaram por alguma situação no mínimo estranha??
Beijos Dora.
Autora: Rafa Cavalhero
Sao Paulo, Brasil
Abril de 2013
As situações relatadas, não refletem a realidade, são meramente um apanhado de situações retratadas em uma personagem icônica que traz características de mulheres que vivem ao meu redor e um pouco do que eu mesmo tenho para dividir.